Poemas

domingo, 15 de abril de 2007

Édipo, o ébrio & de como bateu de bar em bar

Foi então que Édipo, cansado do provincianismo de Corínto, partiu para Tebas. Na mala de garupa dois pedaços de charque, muita esperança e a saudade de Pandora – menina afoita que roubou seu coração.

Que gostasse de uma água forte, todos tinham ciência, mas que fosse corajoso seria mentir para o espelho (anos depois Narciso – amigo de infância – exaltaria nas homenagens póstumas: virtude & coragem).

Longos dias no lombo de sua Yamaha o deixaram fatigado. Pernoitaria em Delfos.

Perguntou ao dono do pensionato onde poderia alimentar a alma com umas doses de hidromel com canha. Sófocles Bar.

Ambiente fumarento, picumã por quilo y un pajador. Duas ou três presenças femininas, e um quadro do “grande timoneiro”. Pelas frinchas, o frio. Duas doses pra começar. O bandoneón de espinhaça quebrada, inventava o clima de invernia. Foi que avistou no balcão aquela que seria sua perdição e sua vida. Matilde? Talvez. De pronto pôs-se de pé. Passos leves e pensamentos levianos o levaram até lá. Ao sopé do ouvido da mulher mais linda disse “Minha feia, onde estão escondidos teus seios? São mínimos como dois vasos de trigo. Me agradaria ver-te duas luas no peito: as gigantescas torres de tua soberania.”. Ao que escutou “Laio!!! Olha só este desaforado”. De trás do balcão pulou aquele homem, que a essa altura mais parecia um felino, proferindo desacatos “Filho-da-puta!!!”... Isso já era demais. Agora que a vadia não conhecia Pablo Neruda, tudo bem, mas todo aquele escândalo!!! Ora ora, o único desaforo que tolerava era de seu pai e não ia ser um sujeitinho à-toa que iria tripudiar com os seus princípios. O átimo permitiu que sacasse a Solingen, cabo de chifre, em direção à reentrância posterior da costela do tal de Laio. Na profundidade das vísceras a faca escutou os últimos suspiros de sua vítima.

Édipo fez pouco caso do sucedido, colocou a mão para dentro do balcão, apanhou um punhado de dracmas e a garrafa de canha, já pela metade. Antes de partir pegou a mulher mais linda pela mão e a levou consigo na garupa de sua Yamaha até o fim do mundo.

Jocasta era o nome da mulher mais linda, e que tinha idade para ser sua mãe. Jocasta se tornou também o nome de referência quando o assunto era a lírica de Neruda. Doutorou-se em Letras. Sete ensaios publicados em forma de livro versando sobre os textos do Nobel de literatura de 1971. Seu coração pertence ao “Carniceiro do Sófocles”, como ficou conhecido Édipo. Hoje vive de fugir da polícia – dura lex sed lex. À noite, quando entra imperceptivelmente no quarto da amada, depois bater de bar em bar, chama Jocasta de Pandora. Ela não se importa, afinal, está cega de amor.

2 comentários:

Selvagem Zamberlan disse...

Tex continua melhor ainda. Com um texto primosoro, consegue, só mesmo ele consegue, imaginar e domar um Édipo de Yamaha, que nos traz à cabresto, manso, calmo e dócil para o nosso entendimento. Este Édipo gaudério é a figura inquieta e extremamente ágil de um grande escritor em busca da perfeição. Adorei o seu texto de "passos leves e pensamentos levianos".Diga: onde posso ler mais de TEX?

AdrianoBK disse...

Incrível, muito bom mesmo. Aonde tem mais?